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sábado, 21 de maio de 2011

O limite da floresta

Grupo de São Paulo identifica os sinais que precedem extinções em série na mata atlântica
A  mata atlântica é uma floresta aos pedaços. Segundo estimativas recentes, restam de 11% a 16% de sua cobertura original, a maior parte na forma de fragmentos com menos de 50 hectares de vegetação contínua, cercados de plantações, pastagens e cidades. Há tempos se sabe que essa arquitetura desarticulada dificulta a recuperação da floresta, uma das 10 mais ameaçadas do mundo. Agora as equipes do ecólogo Jean Paul Metzger e da zoóloga Renata Pardini, ambos da Universidade de São Paulo (USP), constataram que, para cada grupo de animais vivendo nessa paisagem retalhada, existe um ponto de não retorno, um limite mínimo de cobertura vegetal nativa que precisa ficar de pé para manter a variedade de espécies de certa região. Quando o desmatamento ultrapassa esse limite, a maioria das espécies é extinta em todos os trechos de mata da área.

Por quase uma década 60 pesquisadores coordenados por Metzger coletaram informações sobre a abundância e a diversidade de anfíbios, aves e pequenos mamíferos em dezenas de trechos de mata atlântica no Planalto Ocidental Paulista, as terras em declive que se estendem da serra do Mar rumo a oeste e ocupam quase metade do estado. Ao comparar os dados, os pesquisadores observaram quedas dramáticas na biodiversidade dos fragmentos de regiões próximas e parecidas, que diferiam apenas em área total de vegetação nativa.

Uma paisagem com 50% de suas matas preservadas, ainda que dispersas em fragmentos, por exemplo, apresentou uma diversidade de aves sensíveis à perda de vegetação três vezes maior do que uma paisagem semelhante com 30% de vegetação. Pequenos mamíferos como a cuíca Marmosops incanus, marsupial de pelagem cinza, olhos grandes e focinho alongado, resistiram mais à derrubada da floresta. Mas, mesmo para eles, o fim veio rápido uma vez atingido o limite. Houve uma queda de 60% a 80% no número de espécies quando a área de mata nativa encolhia para menos de um terço da original.

O estudo não fornece um valor único de área mínima de mata nativa necessária para manter intacta a biodiversidade do ecossistema. “Para outros grupos de animais, as perdas bruscas podem acontecer mais cedo ou mais tarde, dependendo da capacidade de deslocamento das espécies e da resistência a perturbações”, explica Metzger, que diz ser razoável o limite de desmatamento fixado para a mata atlântica pelo Código Florestal em vigor.

A análise dos dados permitiu a Renata e Metzger – com o auxílio de Adriana Bueno e Paulo Inácio Prado, também pesquisadores do Instituto de Biociências da USP, e de Toby Gardner, da Universidade de Cambridge, Inglaterra – chegar a uma explicação plausível de por que a biodiversidade dos fragmentos de mata atlântica diminuiu em algumas regiões, mas, em outras, se manteve parecida com a de trechos de vegetação contínua da serra do Mar. Em um artigo publicado em outubro de 2010 na revista PLoS One, eles apresentam um modelo conceitual de como isso aconteceria.

Segundo o modelo, o colapso das populações seria causado pela combinação de processos que ocorrem em duas escalas: local e regional. Os processos com efeito regional estão ligados à dificuldade de migrar de um fragmento de floresta para outro. Condicionada à área total de matas remanescentes na região, essa dificuldade aumenta com o avanço do desmatamento, pois crescem exponencialmente as distâncias separando os trechos de florestas – e muitas espécies, até pássaros como o trepador-coleira (Anabazenops fuscus), não se deslocam de um fragmento a outro quando há pastagens ou estradas no caminho. Presos a áreas restritas, essas espécies se tornam mais suscetíveis a processos que influenciam as extinções em escala local, como a redução na área dos fragmentos, que diminui o tamanho das populações.

O mais importante é que esse modelo pode orientar decisões sobre o melhor modo de aplicar recursos para conservar e recuperar a mata atlântica. Segundo os pesquisadores, ele prevê, por exemplo, que os eventos que precedem a extinção dariam pistas de sua chegada com antecedência. A maneira como as espécies se distribuem nos fragmentos de uma região sinaliza quando a biodiversidade está no limite de cair abruptamente, mas ainda tem boa chance de ser recuperada. “Nessas condições, pequenos investimentos de restauração que facilitem o fluxo de animais entre os fragmentos produziriam um retorno grande”, diz Metzger. “Se quisermos aumentar a cobertura florestal da mata atlântica com ganhos rápidos de diversidade biológica, é nessa faixa [regiões com 20% a 40% de remanescentes] que temos de atacar.”

Um dos fundamentos do modelo é a evolução da geometria dos fragmentos, que Metzger e outros pesquisadores passaram a compreender melhor ao simular em computador como o desmatamento recorta uma floresta virtual. Essas simulações sugerem que, à medida que a vegetação nativa de uma região diminui, ocorre uma transformação fundamental em uma característica dos fragmentos de floresta: a distância entre eles, que no início cai de modo gradual, passa a aumentar exponencialmente.

A partir desses resultados, confirmados em paisagens reais por Metzger e pesquisadores de outros países, o grupo da USP começou a se questionar se a evolução da geometria dos fragmentos poderia afetar a biodiversidade de uma região por influenciar dois fenômenos bem conhecidos dos ecólogos.

Um deles é a influência que a área de um fragmento exerce sobre a probabilidade de sobrevivência de uma população. Quanto maior a área, maiores as populações das espécies que vivem ali – e, portanto, menores os riscos de serem extintas por um evento ao acaso, como o nascimento exclusivo de fêmeas em um ano ou a ocorrência de um desastre natural.


Isolamento - Por esse raciocínio, a biodiversidade de um fragmento deveria ser proporcional à sua área. Mas essa é apenas parte da história. “Não é só o tamanho do fragmento que importa, mas também a paisagem em que ele está inserido”, explica Renata. Afinal, os fragmentos não são ilhas perfeitamente isoladas. Se estiverem próximos o suficiente uns dos outros, muitas espécies de animais podem viajar entre eles, evitando a extinção de populações nos fragmentos menores. “Esse é o efeito resgate”, conta. “Apesar de um fragmento ser pequeno e o risco de extinção grande, a população se mantém por causa da migração.”

Os pesquisadores imaginaram então que no processo de desmatamento, antes de ocorrer o aumento acelerado da distância entre os fragmentos, esses trechos de floresta estariam ainda próximos o suficiente uns dos outros para que o efeito resgate mantivesse a biodiversidade alta em toda a região. Com a diminuição das matas remanescentes, porém, esse efeito perde força e a diversidade dos fragmentos pequenos diminui, embora a biodiversidade total da região seja preservada, com a maioria das espécies concentrada nos fragmentos maiores. Nesse estágio, é possível observar na região o efeito do tamanho dos fragmentos, que torna a diversidade de espécies de um fragmento proporcional à sua área.

Esse efeito predomina até que o desmatamento passe a aumentar exponencialmente a distância entre os trechos de floresta. Ultrapassado esse limite, o efeito resgate cessa e o risco de extinção das populações aumenta para grande parte das espécies, que somem tanto dos grandes fragmentos como dos pequenos.


Teste do modelo - O passo seguinte foi testar se o modelo previa a distribuição das espécies que o grupo da USP havia observado no trabalho de campo feito entre 2000 e 2009 no interior paulista, com apoio da FAPESP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha. No projeto, os pesquisadores fizeram o levantamento de anfíbios, aves e pequenos mamíferos em três áreas de 10 mil hectares com diferentes graus de mata nativa preservada (50%, 30% e 10%) e em três áreas de mata atlântica contínua na serra do Mar.

Depois de capturar os animais e identificar suas espécies, os pesquisadores os separaram em dois grupos: o das espécies especialistas, que só habitam trechos de mata atlântica; e o das generalistas, capazes de sobreviver tanto na floresta como em áreas modificadas pela ação humana, como plantações e pastagens. A classificação foi essencial para comparar os dados do levantamento com as previsões teóricas sobre o efeito da fragmentação, que deveriam ser observadas apenas  para as espécies especialistas.

No caso dos pequenos mamíferos, das 39 espécies encontradas, 27 eram especialistas. Para estas, os padrões de diversidade observados foram os esperados. Na região com 50% de cobertura nativa, tanto fragmentos grandes como pequenos continham quase todas as espécies achadas na região de mata contínua vizinha. Essas mesmas espécies também estavam na região com 30% de mata, mas concentradas nos fragmentos maiores. Já na região com 10% de floresta, o limiar de desmatamento havia sido ultrapassado e a diversidade era uniformemente baixa: seus fragmentos, independentemente da área, abrigavam de três a cinco vezes menos espécies especialistas do que a região de mata contínua.

Os pesquisadores notaram ainda que, na ausência de espécies especialistas, as populações das espécies generalistas explodiram na região com 10% de mata. Em áreas com 50% de floresta foram capturados 63 roedores Oligoryzomys nigripes, uma espécie generalista, enquanto o número saltou para 409 na região com menos mata. O dado preocupa. Esse roedor é o principal reservatório na mata atlântica do vírus causador da hantavirose humana e sua presença em pastos e plantações pode aumentar o risco de contágio das pessoas.

Esse é só um exemplo do impacto que a perda de biodiversidade pode ter sobre a saúde e a qualidade de vida humanas. Outros serviços prestados pelos ecossistemas naturais, como a polinização de plantações e o controle de pragas agrícolas, também podem desaparecer. “Não queremos preservar a biodiversidade para manter museus vivos, mas para manter os serviços que os ecossistemas desses remanescentes prestam”, diz o ecólogo Thomas Lewinsohn, da Universidade Estadual de Campinas, que não participou da pesquisa.

Para Lewinsohn, o trabalho dos grupos de Renata e de Metzger representa um salto qualitativo na ecologia, por combinar um estudo de campo difícil de realizar, com um modelo teórico que explora as consequências finais de diferentes efeitos, antes discutidos de maneira separada pelos pesquisadores que investigam a redução e a fragmentação de ambientes naturais em todo o mundo. “Eles deram uma contribuição importante para o entendimento das consequências da perda de florestas para a biodiversidade”, comenta o ecólogo Ilkka Hanski, da Universidade de Helsinque, na Finlândia, pioneiro na pesquisa do impacto das transformações no hábitat sobre comunidades de plantas e animais. “Esse estudo deve se tornar altamente influente na biologia da conservação.”

Artigo científico
PARDINI, R. et al. Beyond the fragmentation threshold hypothesis: regime shifts in biodiversity across fragmented landscapesPLoS One. 23 out. 2010.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Brazilian Important Bird Areas get protection



Brazilian Important Bird Areas get protection

11-06-2010

Brazilian President, Luiz Inacio Lula da Silva, has signed the creation of the Boa Nova National Park and the Boa Nova Wildlife Refuge, safeguarding this biodiverse Important Bird Area (IBA) and creating 27,000 hectares of new protected area.

Pedro Develey
Boa Nova IBA, located in south-west Bahia state, has a unique flora and fauna due to the overlap of two biomes 



Boa Nova IBA, located in south-west Bahia state, has a unique flora and fauna due to the overlap of two biomes: lush montane Atlantic Forest, and semi-arid caatinga. The dry deciduous forest of the transitional area, known as mata-de-cipó, is the habitat of two restricted range species, the Endangered Slender Antbird Rhopornis ardesiacus and Near Threatened Narrow-billed Antwren Formicivora iheringi. Three hundred and ninety six bird species have been recorded to date at Boa Nova, 14 of which are globally threatened and 17 Near Threatened.
During the event, President Lula also signed the creation of the Serra das Lontras National Park, another IBA where 16 globally threatened bird species occur, and the creation of the Alto Cariri National Park, in addition to the expansion of the Pau Brasil National Park. Together, these areas will protect about 60,000 hectares of Atlantic Forest, one of the most threatened biomes in the world.
"This is one of the greatest victories for bird conservation in Brazil. These new protected areas are all IBAs, including two sites considered priorities for action by SAVE Brasil. When we initiated our work at these sites they were known by only a few ornithologists, now they are recognised at the national level, and the chances for the survival of an impressive number of threatened bird species have increased considerably", said Jaqueline Goerck, Director-President of SAVE Brasil (BirdLife Partner).
The creation of the protected areas at Boa Nova and Serra das Lontras is a milestone in the efforts for the protection of the region’s biodiversity. SAVE Brasil has been working on both areas for several years, in partnership with governments, non-governmental organisations and local communities, and supporting the process that culminated with the creation of these protected areas.

Arthur Grosset www.arthurgrosset.com
Boa Nova IBA is home to the Endangered Slender Antbird 
"This is one of the greatest victories for bird conservation in Brazil" —Jaqueline Goerck, SAVE Brasil
The Serra das Lontras Forest Complex comprises montane and lowland forests. This gradient of vegetation enables the occurrence of rich bird diversity: 330 species recorded so far, 16 of which are globally threatened and 13 Near Threatened. Serra das Lontras is also a hot spot of plant diversity with 735 angiosperm species, 150 species of ferns and lycophytes. At least 38 species of mammals also occur, among them two primates and three felids threatened with extinction.
The region is also characterized by the traditional cultivation of cacao in cabruca, an agroforestry system that favors the conservation of biodiversity for being associated to areas of native Atlantic Forest. However, because of the cacao crisis, producers have been forced to substitute the cabrucas with more aggressive land uses which degrade forests and threaten the survival of the region’s rich biodiversity.
"Now that these protected areas are created, the next step is to develop and apply their management plans. SAVE Brasil will continue to be involved in this process, working with the Brazilian government to ensure the effective implementation of these protected areas and the long term survival of their unique biodiversity", said Goerck.
The work developed by SAVE Brasil on public policies is funded by the Aage V Jensen Charity Foundation. The conservation programme at Boa Nova is funded by the Brazilian Ministry of the Environment - Ecological Corridors Project, KFW, Nature Canada and Ricoh Co. Ltd. A project for the conservation and sustainable development of Serra das Lontras was funded by the European Union, from 2005 to 2009. The project was developed by BirdLife International, in partnership with SAVE Brasil and Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB).

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Estação Ecológica Juréia-Itatins

Nos dias 9, 10 e 11 de Abril de 2010, tive o prazer de visitar a Estação Ecológica Juréia-Itatins acompanhada pelo Prof. André Eterovic, pela Profa. Gisele Ducati, pelo Prof. Charles Morphy, por 18 alunos da disciplina "Práticas em Ecologia" oferecida na UFABC, e pelos monitores-guias Prof. Nelson "Leleu" Maciel e Prof. Rafael "Bolinho" Lima.


A E. E. Juréia-Itatins é uma bela amostra dos ecossistemas litorâneos (restinga, mangue, costão rochoso) da Mata Atlântica, além da própria floresta tropical úmida. A paisagem é exuberante e recomendo a visita para aqueles que amam da natureza e gostam de uma aventura.


A E.E. Juréia-Itatins está situada nos municípios de Peruíbe e Iguape, no litoral de São Paulo.




Saímos da UFABC (Campus Santo André) à tarde e depois de umas 3 horas de viagem de ônibus chegamos em Peruíbe. Para chegar ao alojamento do Núcleo Arpoador da E.E. Juréia-Itatins tivemos que atravessar de barco a saída do Rio Guaraú. O ideal é fazer esta travessia com a maré baixa, especialmente se tiver levando bagagem (mochilas de preferência).




No primeiro dia, chegamos no fim da tarde no alojamento. O alojamento do Núcleo Arpoador é bem confortável, possui 10 quartos com 4 leitos (2 beliches) cada, e dois banheiros com chuveiros coletivos. À noite tivemos a palestra do Dr. Nelson Maciel sobre ecossistemas costeiros, onde ele teve a oportunidade de compartilhar com todos nós sua imensa experiência no tema e especialmente na região.




No segundo dia pela manhã, percorremos duas trilhas (subindo e descendo morro) ao longo das quais ambos os monitores-guias mostraram as características da floresta tropical úmida do bioma Mata Atlântica e os alunos tiveram a chance de sentir, usando todos os sentidos, e aprender mais sobre esse ecossistema.
















As trilhas não são fáceis mas o esforço valeu a pena para chegarmos à Praia de Parnapuã, onde os monitores ofereceram uma aula sobre restinga ao vivo.




Como tínhamos que aguardar a maré baixar para atravessar a Praia do Arpoador na volta, sobrou um tempinho para conhecer a Praia do Juquiazinho. Valeu a pena!




Na volta, a maré não estava tão baixa assim... Mas deu para atravessar.




À noite, tivemos a palestra do Prof. Rafael Lima sobre suas experiências em projetos de conservação e educação ambiental no projeto TAMAR.


O terceiro dia começou com um lindo nascer do sol.




Neste dia fomos conhecer o costão rochoso e o mangue com as aulas dos monitores Nelson e Rafael.












Com certeza, as aulas ministradas pelos monitores-guias Nelson e Rafael enriqueceram muito a disciplina "Práticas em Ecologia" oferecida por mim e pelo Prof. André. Outra visão dos ecossistemas costeiros do bioma Mata Atlântica foi mostrada aos alunos e eles tiveram a oportunidade de vivenciar estes ecossistemas e testemunhar como boas aulas in loco podem ser usadas também para educação ambiental.


Para aqueles interessados em visitar a Estação Ecológica Juréia-Itatins, entrem em contato com a Associação de Monitores Ambientais da Juréia: (13) 9701-3428 (Edilaine); e-mail: aventuranajureia@hotmail.com. Eles oferecem excursões guiadas e informações detalhadas de como visitar a unidade de conservação. O telefone da sede da E.E. Juréia-Itatins é: (13) 3457-9243.


Mais fotos no website da disciplina "Práticas em Ecologia".