segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mesa-redonda "Ecologia de Estradas" no CEB2009


No Congresso de Ecologia do Brasil deste ano, coordenei a mesa-redonda de Ecologia de Estradas no dia 16 de Setembro. Foi uma experiência incrível. A audiência estava muito acima do que eu esperava e depois das apresentações, o debate rendeu bastante. O público tinha alunos de graduação em sua maioria.


Eu iniciei as apresentações da mesa-redonda com uma introdução sobre o tema, seguida pelas apresentações do Dr. Philip Fearnside (INPA), da doutoranda Janaina Casella (UFMS) e da Dra. Cecilia Bueno (UVA).



Dr. Fearnside discutiu a polêmica da construção da rodovia BR-319 (que pretende ligar Manaus a Porto Velho), questionando a existência de algum benefício desta obra faraônica, já que mesmo economicamente a navegação de cabotagem seria a melhor solução. Ecologicamente, sabe-se que as estradas na Amazônia são um dos principais agentes de desmatamento.


Janaina Casella apresentou alguns resultados do seu doutorado na Pos-Graduação de Ecologia e Conservação (UFMS), sobre atropelamentos de mamíferos na BR-262, entre Campo Grande e Miranda. Janaina mostrou os padrões espaciais e temporais desses atropelamentos, com 231 animais atropelados em dois anos de estudo, sendo os mais atropelados: lobinho (Cerdocyon thous, 71), tatu-peba (Euphractus sexcintus, 52), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla, 36), tatu-galinha (Dasypus novemcinctus, 20) e tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla, 19).


Dra. Bueno mostrou alguns resultados do seu projeto "Caminhos da Fauna", onde monitora há mais de 3 anos a rodovia BR-040 (Rio de Janeiro - Juiz de Fora) e começa a implementar algumas medidas mitigadoras, com apoio da CONCER: placas para sinalização (avisando os motoristas nos trechos com maior incidência de atropelamentos), cercas em um rio (onde a incidência de atropelamentos de capivaras era excessiva) e bandeirolas (para evitar que as aves executem seu vôo rasante cruzando a rodovia).


Eu adorei as apresentações porque mostraram vários ângulos do impacto ambiental causado pelas estradas e em três biomas brasileiros: desmatamento na Floresta Amazônica, atropelamento resultando na morte de mamíferos no Pantanal e na Mata Atlântica (que pode representar um aumento significativo na taxa de mortalidade das populações e uma perda significativa na biodiversidade local).


Vale lembrar que esta mesa-redonda foi originalmente proposta pelo Dr. Alex Bager (UFLA) que pediu que eu a coordenasse em seu lugar porque ele participaria de ICOET (um importante congresso internacional na área de Ecologia de Estradas). Dei muita sorte!


Para os interessados no tema, sugiro ler a "bíblia" da área de Ecologia de Estradas: