Uma das contribuições da Revolta do
Vinagre foi a divulgação das organizações sociais organizadas de forma
horizontal pela mídia tradicional para o grande público. O Movimento Passe
Livre (MPL) foi o primeiro que se destacou nas manifestações de junho de 2013,
devido à luta contra a redução da tarifa do ônibus, inicialmente na cidade de
São Paulo. Os famosos 20 centavos se tornaram a pauta principal de diversas
manifestações espalhadas pelo Brasil. O MPL
tem como princípio ser um movimento horizontal (sem hierarquia), autônomo,
independente e apartidário, mas não antipartidário. Com o aumento da violência
da polícia militar, outros grupos começaram a se destacar nos movimentos,
dentre eles a Mídia Ninja que se propõe a realizar “Narrativas Independentes,
Jornalismo e Ação”. É um coletivo cultural que se tornou mais
conhecido pelas transmissões ao vivo, através da Pós TV e da TwitCasting, das manifestações amplificadas
antes e durante a Copa
das Confederações da FIFA de 2013. A Pós TV e a Mídia Ninja são coletivos
culturais apoiados pelo Fora
do Eixo que organiza diversos eventos culturais pelo Brasil. Os coletivos
culturais, em geral, se definem como uma organização comunitária que conta com
o trabalho colaborativo para a democratização e integração de projetos
culturais, valorizando iniciativas locais, e usam as redes sociais da Internet
para a divulgação dos eventos culturais (notadamente, Facebook e Twitter).
A Mídia Ninja é um dos projetos associados ao Fora do Eixo que foca o
jornalismo independente, sendo um representante do movimento “Midialivrismo”. O
Fora do Eixo, aparentemente, cresceu tanto em número de projetos, pessoas
participando em grupos locais (“casas”), em público assistindo aos shows e em
dinheiro circulante que a organização horizontal está sob ameaça. A repercussão
da entrevista do representante do Fora do Eixo, Pablo Capilé, e do
representante da Mídia Ninja, Bruno Torturra, no programa de TV “Roda Viva”, no dia
5/08/2013, demonstra as diferenças de proposta dos dois coletivos
culturais. As denúncias sobre o Fora do Eixo depois desse programa estão
surgindo nas redes sociais, enquanto que a Mídia Ninja tenta se distanciar do
coletivo coordenado pelo Pablo Capilé. Ideias teóricas lindas podem ser tornar
um pesadelo na prática porque dependem de pessoas para serem realizadas. Dessa
forma, acredito que não existe nenhum modelo teórico perfeito (se existir
algum) que quando aplicado ao mundo real se torne imperfeito pelos mais
diversos motivos. Com base nesse axioma, não é saudável idolatrar, endeusar,
colocar alguém em um pedestal, ou seja, tornar alguém um modelo ideal de
conduta e exemplo de tudo de bom que você acredita. A idolatria a um modelo ou
ideologia aplicada também tem seus riscos porque ocorre a troca da visão
crítica pela crença cega sobre algum tema, ou fato, ou evidência. Historicamente,
todos conhecemos alguns eventos que mostram quão longe a crença cega pode
chegar, em geral, de forma destrutiva para a maior parte da população. Não quer
dizer que os modelos ideológicos teóricos não tenham elementos interessantes a
serem aproveitados. Eu acredito que a Metáfora
da Caixa de Bombom resume bem a ideia que todas as ideologias ou projetos
sociais tem algumas propostas interessantes e outras desinteressantes para cada
um de nós. Os coletivos culturais e as organizações horizontais não são modelos
perfeitos e, por isso, apresentam falhas, mas mostram a carência de
representação da maioria da população e a necessidade de participação de parte
dessa população, especialmente os jovens que precisam falar e demandam serem
ouvidos. Na minha opinião, essas carências alimentam a formação de coletivos
que atuam nas áreas culturais, ambientais e políticas, e que tendem a atuar
mais intensamente em outras, como científicas, educacionais. As redes sociais
amplificam a divulgação e participação desses coletivos, repercutindo e
influenciando nas decisões políticas e na opinião dos diferentes setores da
sociedade, retroalimentando os movimentos sociais. Nas redes sociais, a
organização é praticamente horizontal, onde cada usuário tem sua voz, sua
chance de expor suas opiniões e ser ouvido por um número maior de pessoas do
que seus amigos ou seguidores. Algumas opiniões podem ser tornar virais, se
espalhando como ampla e rapidamente, dependendo de como se dá a repercussão da
publicação e outros fatores, de forma quase imprevisível. Esse meio de
dispersão de informações altera a determinação de quem são os formadores de
opinião. A maior participação abre o debate para diversos temas. Algumas
pessoas se tornam líderes rapidamente com diversos seguidores e amigos, que
ouvem suas opiniões. De certa forma, aumenta o poder de mais pessoas, podendo
ser um fortalecimento da democracia e da participação política no Brasil, pelo
menos para aqueles que tem acesso às redes sociais. O acesso vem aumentando
muito com os celulares com Internet. O aumento de participação e a necessidade
de ser ouvido acarretam a busca por soluções de problemas coletivos nas escalas
local, regional, nacional, continental e mundial. Em oposição a essa evolução
acelerada da comunicação e do acesso à informação estão os modelos tradicionais
de política, de cultura e dos demais setores da sociedade, que apresentam um
ritmo mais lento de resposta, de ação e de mudança (mesmo com vontade política)
porque as estruturas de organização política, econômica e social são
burocráticas, hierarquizadas e pouco eficientes. O contraste entre o mundo
virtual e o mundo institucional é tão grande que o conflito era inevitável. A
Revolta do Vinagre se diversificou em diversos movimentos que demonstram as
insatisfações de vários setores da sociedade. As respostas dos setores do
governo municipal, estadual e federal sobre as manifestações foram distintas:
confronto e opressão x controle com diálogo. Espero que a pressão das massas
nas ruas e nas redes sociais continue modificando as atitudes dos setores do
governo, e que essas mudanças de atitude mostrem para mais pessoas que a
pressão funciona para melhor o funcionamento do Estado e a qualidade de vida de
toda a população. Só assim, essa pressão vai continuar até as eleições e gere
representantes mais conscientes da força da voz do povo amplificada pela
Internet. Outro resultado que espero da Revolta do Vinagre é o aumento de ações
locais independentes do governo, de ONGs e de empresas; com impactos nos mais
esquecidos recantos do Brasil. Se cada um dos cidadãos brasileiros tomarem
ciência da força que tem quando organizados em pequenos grupos organizados em
rede e horizontalmente (divisão do trabalho mais igualitária) e que para
conseguirem o que necessitam devem sair da passividade usual, quando se espera
a ajuda de alguém (governo, empresa, ONG), o Brasil muda completamente. Não
tenho a visão liberal, onde quem não busca o sucesso é um perdedor, e os
perdedores não merecem ajuda. Prefiro a visão social-democrata (no sentido da
Alemanha), quando todo cidadão deve ter o direito de uma vida digna (educação,
saúde, alimentação, infraestrutura básicos), e essa garantia é dada pelo
governo. Com o básico, qualquer cidadão tem as mesmas chances de escolher o
estilo de vida que deseja, com a justiça regulando os excessos. As organizações
coletivas locais são uma das formas de construir um mundo melhor ao seu redor
com as próprias mãos. Quanto mais passivo, mais esquecido você se torna. Quanto
mais ativo, quanto mais organizado em rede, maior é o impacto e mais alto,
claro e distante você será ouvido. Para isso acontecer, o governo deve escutar
e dialogar com os coletivos para executar as ações para atingir as condições
básicas de vida digna. As empresas devem ter maior participação nas atividades
realizadas pelos coletivos, as viabilizando economicamente. As informações de
todos os setores devem ser transparentes para que a confiança no funcionamento
da rede cresça e se mantenha estável. Todo trabalho em colaboração depende de
confiança, dessa forma, nos sistemas horizontais quando a confiança é quebrada,
a tendência é a falência do coletivo. Quanto mais numerosos forem os coletivos,
menos centralizados (com mais nós, muitos núcleos) forem, menos hierarquizados
e dependentes de poucas pessoas tendem a ser, e assim, mais democráticos e
socialmente justos serão. O novo mundo das organizações horizontais está posto
e espero que seja mais equilibrado social, econômica e ambientalmente.
sábado, 10 de agosto de 2013
Boas notícias na Internet sobre o Brasil
Para quem busca boas notícias sobre o Brasil na Internet, sugiro a leitura de alguns posts do meu outro blog: Orgulho Nacional Brasil.
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